Coincidências são legais. Por mais que eu acredite que elas sejam puramente aleatórias, sempre tenho uma sensação de estar vivendo em uma realidade sobrenatural quando elas acontecem.Segunda-feira de madrugada eu estava lembrando do show de lançamento do Quarenta e Quatro, o primeiro álbum do Betty by Alone. Foi em novembro de 2002, no meio de um shopping center, com direito a reverberação esquisita produzida pelo chão excessivamente polido e reclamação das velhas que jogavam no bingo do shopping - dizendo que nós fazíamos muito barulho. Mas essa história fica para outro dia, porque o foco das minhas lembranças de segunda-feira e consequentemente, deste texto, é uma cover que fizemos naquele show: Meat Puppets.
Sim, aquela banda dos irmãos Curt e Chris, que ficaram conhecidos internacionalmente por terem participado do show acústico em Nova York da banda de Kurt e Krist, mas que continuaram no semi-anonimato mesmo depois de tanta exposição. Aquela banda que tem discos lindíssimos como o "II". Lindíssimos mas pouco ouvidos, porque a maioria das pessoas não tem paciência para perceber a beleza das músicas se elas estão escondidas por trás de uma gravação ruim.
Kurt Cobain não fazia parte da maioria, por isso ele conseguiu perceber as pérolas que haviam no "II", e ao regravá-las com toda qualidade que o dinheiro de uma grande gravadora pode proporcionar, mostrou ao mundo o quão foda eram os Meat Puppets.
Mas o cover do Meat Puppets que o Betty by Alone fazia não era nenhuma daquelas do unplugged do Nirvana. Era "We don´t exist", do álbum Too High to Die, música com guitarras a mil por hora, que chegava a deixar a mão direita doendo de tanto palhetar.
Voltando a esta Segunda, depois de eu ter ficado um tempo divagando sobre os Meat Puppets, dos quais eu nunca mais tinha ouvido notícias, zapeava aleatoriamente a televisão quando me deparei com um Coluna MTV sobre eles. Coincidência rara. Provavelmente foi a única coisa que apareceu e aparecerá este ano na tv brasileira sobre eles, e eu, que assisto pouquíssima tv, presenciei logo após ter acabado de pensar na banda. E para melhorar, o programa não era apenas uma retrospectiva… falava sobre o álbum NOVO do Meat Puppets.
Parece que foi assim: o Curt Kirkwood postou no myspace da banda uma mensagem perguntando se alguém estaria interessado em ver uma volta dos Meat Puppets. A resposta foi massiva: SIM! Então eles se reuniram e começaram as gravações de Sewn Together, álbum fodástico que eu já ouvi e reouvi e ouvi de novo e de novo em apenas 3 dias.
Não é nada de artisticamente inovador, é apenas mais um álbum do Meat Puppets, que poderia muito bem ter sido gravado nos anos 80. Só que "apenas mais um álbum do meat puppets" significa algo muito gostoso de se ouvir: canções cheias de guitarras, solos abundantes mas sem malice, meio punk meio hippie, poucas e certeiras pitadas de melancolia, muitos backing vocals extensivamente harmônicos, meio grunge meio country, altamente melódico sem ser pegajoso.
Descobrir um álbum novo do Meat Puppets após tanto tempo é como encontrar por acaso um best friend das antigas. Por mais que tenham se passado anos desde o último encontro, parece que a gente se viu ontem.
E quanto à coincidências, independentemente de serem ou não sobrenaturais, elas podem ser incrivelmente fantásticas, como o som do Meat Puppets é.
(Fernando Fadini)
Link:
Coluna MTV
(o meat puppets está no bloco 2)
